Como é a Praia do Pinho, a 1ª de naturismo do Brasil e que terá prática de nudismo proibida
18/12/2025
(Foto: Reprodução) Balneário Camboriú anuncia que vai proibir prática de nudismo na Praia do Pinho
A Praia do Pinho, localizada em Balneário Camboriú (SC), é a primeira praia de naturismo do Brasil. De fácil acesso, o local é internacionalmente conhecido pelo nudismo, mas deve perder a classificação após a prefeitura anunciar que vai proibir e revogar a autorização da prática no local.
Em nota, a Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) manifestou "preocupação e pesar" diante da medida. "Trata-se de um marco histórico do naturismo brasileiro, reconhecido nacional e internacionalmente, que por décadas representou um ambiente de convivência respeitosa, liberdade responsável e contato consciente com a natureza" (leia a nota completa no fim do texto).
✅Clique e siga o canal do g1 SC no WhatsApp
A informação foi divulgada na quarta-feira (17) sob a justificativa de que o espaço perdeu o sentido de praia naturista e passou a ser usado para atos ilícitos e crimes sexuais. O decreto, que ainda não foi assinado, foi apresentado às associações de moradores das praias agrestes e forças de segurança.
🧘🙏 O naturismo é uma filosofia que prega autorrespeito, autoconhecimento, respeito ao próximo, alimentação saudável e preservação da natureza. Dentro deste modo de viver, também está a prática de nudismo social (leia mais abaixo).
Praia do Pinho é considerada a primeira de naturismo do Brasil
Praia do Pinho/Divulgação
🏖️ 🌊 Com cerca de 500 metros de extensão, o balneário fica entre as praias de Laranjeiras e do Estaleirinho. Formada por areia clara de espessura média, a praia é acessada pela Avenida Rodesindo Pavan.
Além da faixa de areia e do mar calmo, o espaço possui pousada, restaurantes e estacionamento privativo. Ao redor, visitantes podem contemplar costões e Mata Atlântica preservada.
A Praia do Pinho ganhou notoriedade nacional através da reportagem, intitulada “Todo mundo nu em Camboriú”, publicada em uma revista de circulação em todo o país no ano de 1984. Em 1986, cerca de 25 pessoas que praticavam o nudismo foram presas no local.
Segundo a Federação Brasileira de Naturismo (FBRN), a prática que leva o nome do órgão é um modo de vida em harmonia com a natureza, que inclui o nudismo em grupo, cuja intenção é favorecer o respeito pelo outro e o cuidado com o meio ambiente.
LEIA TAMBÉM
Nudismo em praia frequentada por naturistas há 40 anos em SC pode ser proibido?
'Retrocesso', dizem naturistas sobre proposta de proibir nudismo em praia de SC
Praia do Pinho, em Balneário Camboriú
Balneário Camboriú Convention & Visitors Bureau/Divulgação
Revogação
O naturismo na Praia do Pinho é previsto no Plano Diretor da cidade, de 2006. Conforme a prefeitura de Balneário Camboriú, o texto do Novo Plano Diretor em discussão na cidade não prevê a reserva de praias da cidade para o naturismo.
Em comunicado, a prefeitura esclareceu que o decreto divulgado na quarta será publicado e valerá após a sanção da lei que instituirá o novo Plano Diretor do município, em votação na Câmara de Vereadores.
"A solicitação da mudança é antiga e atende a pedidos tanto da Guarda Municipal e Polícia Militar, quanto da própria comunidade local. A avaliação é que, ao longo dos anos, a Praia do Pinho perdeu o verdadeiro sentido de uma praia de naturismo e passou a ser utilizada para atos ilícitos e crimes sexuais. A conduta estaria, inclusive, prejudicando praias agrestes vizinhas", disse.
Praia do Pinho é localizada a cerca de 80 quilômetros de Florianópolis
Praia do Pinho/Divulgação
🤔Qual a diferença entre nudismo e naturismo?
Segundo explica Susan Letícia Gals, integrante do movimento e tesoureira da Associação NuParaíso, responsável pela manutenção da Praia do Pinho, o naturismo pode ser classificado como uma "filosofia de vida que engloba várias atitudes e, dentre elas, o nudismo".
De acordo com ela, os espaços são reconhecidos pelos municípios e pela Federação Brasileira de Naturismo (FBrN). A entidade possui regras para os visitantes, mas afirma não haver espaço delimitado para pessoas que querem andar nuas ou idade mínima para frequentar os espaços.
Não é permitido fotografar ou filmar a praia, mesmo de longe, sem a autorização dos frequentadores.
Praia do Pinho, em Balneário Camboriú
PMBC/Divulgação
O que diz a Federação Brasileira de Naturismo
Confira abaixo a nota completa da Federação Brasileira de Naturismo.
A Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) manifesta profunda preocupação e pesar diante do encerramento da prática do naturismo na Praia do Pinho, em Balneário Camboriú, Santa Catarina, em decorrência da aprovação da PL 10/2022 e das alterações introduzidas pelo novo Plano Diretor do município.
A Praia do Pinho não é apenas um espaço geográfico. Trata-se de um marco histórico do naturismo brasileiro, reconhecido nacional e internacionalmente, que por décadas representou um ambiente de convivência respeitosa, liberdade responsável e contato consciente com a natureza.
É fundamental esclarecer à sociedade alguns pontos que têm sido, reiteradamente, confundidos ou utilizados de forma inadequada no debate público.
Naturismo não é nudismo desordenado
O naturismo é uma prática regulamentada, baseada em valores claros: respeito mútuo, convivência social, ética, preservação ambiental e responsabilidade individual. Não se confunde, em hipótese alguma, com comportamentos inadequados, atos obscenos ou crimes sexuais.
Crimes são crimes — independentemente de onde ocorram — e devem ser combatidos com fiscalização, investigação e punição, não com a extinção de uma prática legítima e reconhecida mundialmente.
Criminalidade e omissão do poder público
Os próprios debates realizados na Câmara Municipal evidenciaram que práticas criminosas, inclusive de natureza sexual e relacionadas ao uso de drogas, ocorrem em diversos espaços públicos de Balneário Camboriú, e não exclusivamente na Praia do Pinho.
Diante disso, questionamos:
Por que a resposta escolhida foi abolir o naturismo, em vez de fortalecer a segurança, a fiscalização e a aplicação da lei?
Punir corretamente uma minoria que age fora das normas sempre foi, e continua sendo, mais eficaz do que eliminar um direito coletivo por falhas de gestão e ausência do Estado.
Ausência de associação local e responsabilidade compartilhada
Reconhecemos que a ausência de uma associação naturista local, forte e atuante, contribuiu para o enfraquecimento da defesa do espaço. Uma sociedade organizada é sempre mais respeitada — porém, também sabemos que nem sempre é fácil encontrar pessoas dispostas a assumir responsabilidades, enfrentar críticas e “colocar a cara a tapa”.
Ainda assim, a falta de organização civil não justifica a supressão de um direito cultural e social, especialmente quando existem instrumentos legais e administrativos para coibir abusos.
Interesses imobiliários e falso moralismo
A possível venda do Complexo do Pinho e a crescente especulação imobiliária na região levantam preocupações legítimas. O discurso moralista, em muitos casos, esconde interesses econômicos claros.
Em diversos momentos na Câmara Municipal foi dito sobre atos sexuais praticados em diversos locais, inclusive centrais de Balneário Camboriú e que não são áreas naturistas.
É importante lembrar que grande parte das pessoas que hoje pedem o fim do naturismo escolheu morar na região quando a praia já era oficialmente naturista, ou seja, tinham pleno conhecimento da vocação do local. Optar por mudar a lei, em vez de respeitar o ambiente escolhido, revela um comportamento egoísta e excludente.
Democracia, diversidade e respeito
Santa Catarina possui centenas de praias. Quantas se tornaram áreas restritas por empreendimentos imobiliários e não por ser área naturista? É realmente tão difícil garantir um pequeno espaço para quem escolhe viver e se expressar de forma diferente?
A democracia se constrói com diversidade, não com imposição de um único modo de pensar ou viver. Defender o fim de um espaço isolado, de acesso voluntário, não é proteção da moral — é negação da liberdade alheia.
Conclusão
A Federação Brasileira de Naturismo entende que o fim da Praia do Pinho como área naturista representa uma perda histórica, cultural e social, fruto de omissões, desinformação, interesses paralelos e intolerância.
Seguiremos defendendo o naturismo como prática legítima, ética e respeitosa, bem como o direito à diversidade, ao diálogo e à convivência democrática.
O combate ao crime se faz com lei, presença do Estado e punição aos culpados, não com a eliminação de direitos de quem sempre agiu corretamente.
Paula Silveira
Presidente da FBrN - Federação Brasileira de Naturismo
VÍDEOS: mais assistidos do g1 SC nos últimos 7 dias
Segundo a Federação Brasileira de Naturismo (FBRN), a prática que leva o nome do órgão turismo: “É um modo de vida em harmonia com a natureza, caracterizado pela prática do nudismo em grupo, que tem por intenção favorecer o auto-respeito, o respeito pelo outro e o cuidado com o meio ambiente”.